0000 0000 0006 0000





0006 0000 0000 0000




0080 0000 0000 0002

9.11.13

Devoradores de livros

Devoradores de livros
Pode ser um hobby ou uma necessidade que muitas vezes gera um vício



Por Dayanne Teixeira

            Pesquisas indicam que brasileiros leem pouco, apesar de o país ser o nono maior mercado editorial do mundo e de editoras estrangeiras investirem cada vez mais na publicação, segundo a Câmara Brasileira do Livro. De acordo com a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, divulgada em março de 2012 pelo Instituto Pró-Livro, a média de leitura é de pouco mais de quatro obras por ano, tirando as obrigatórias escolares. São 88,2 milhões de pessoas que leem no país, cerca de 50% da população. E há quem bata essa média anual em apenas um mês, como participantes de clubes e concurseiros. Mas, se a prática constante pode trazer uma série de benefícios, como a desenvoltura na fala, ela também pode causar vícios e transtornos.

            Com mais ou menos 300 livros na estante e uma média de leitura de seis obras por mês, Márcia Thiara, 23, se considera uma leitora compulsiva. Ela relata que o vício começou com a saga Harry Potter. Durante o ensino médio era voluntária na biblioteca da escola. "Já matei aula para ficar lá ou terminar um livro. Sempre indiquei obras para os outros alunos", comenta. Hoje, participa ativamente do Clube do Livro do DF. "Grupos assim fortificam a relação pessoa-estudante. Lá encontramos pessoas como nós, que realmente gostam de ler. Você conhece novas séries literárias e se descobre", acrescenta.
            Samara Reis, 18, relata que o hábito de ler sempre a ajudou no combate à solidão. "Sou filha única e não tenho primos. Me entreguei ao universo literário. Lia por horas e, na busca de novas obras, acabei me encaixando no clube de leitura da escola. Lá eu era gratificada por cada obra concluída, criei vários amigos, melhorei minhas notas e tinha com quem interagir", declara.
            Essa característica é confirmada pela psicopedagoga Andréa Cassese. Segundo ela, a leitura auxilia na descoberta de novas palavras, ideias e expressões: "Ela corrige conceitos pré-determinados que ajudam o leitor a viajar por ambientes vastos, melhorando o aprendizado e as relações interpessoais".
            Adriana Sousa, 40, confessa que fazia parte dos não leitores: “Quando criança não era incentivada a ler. Achava perda de tempo e tedioso. Meu pensamento só mudou por causa da minha filha”. Ela comenta que no início se irritava com a insistência, até que decidiu ler um dos romances indicados por ela: “Assim que terminei, comecei a procurar outros. Hoje sou voraz, tem mês que leio de oito a nove volumes”. 
            Uma das maneiras de conquistar novos adeptos são as políticas públicas. Criado pelo Ministério da Cultura em parceria com a Fundação Biblioteca Nacional, o Programa Nacional de Incentivo à Leitura (Proler) busca a valorização e a democratização da leitura e da escrita e pretende capacitar oito mil novos mediadores, que atuam como interlocutores entre a obra e os futuro leitores. Presente em todo o país desde 1992, ele funciona a partir de comitês organizados e distribuídos pelas regiões brasileiras. Outro meio que busca propagar o hábito é o Instituto Brasil Leitor (IBL). 
Outro lado
            A psicóloga Suzanna Campello explica que, apesar dos benefícios, a leitura pode causar problemas: “Já atendi pacientes que desenvolveram problemas de personalidade causados por vícios literários. Eles se comportavam como personagens, não sabiam diferenciar a realidade da ficção”. Ela relata que essa obsessão pode levar algumas pessoas a se isolarem e até mesmo entrarem em depressão por se decepcionarem com a realidade. 


            Sofia Rocha, 17, relata que já ficou tão obcecada com uma obra que não conseguia desvincular o imaginário do real: “Foi na época em que li Crepúsculo. Eu era a Bella”.  A mãe de Sofia, Sônia Rocha, explica que teve de levar a filha para fazer tratamento. “Ela não saia no sol, pintava o cabelo e usava roupas como o da personagem e não se relacionava com ninguém. Literalmente seguia os passos do livro. Ficou mais tímida e até chegou a começar a entrar em depressão. Foi um pesadelo”, ressalta.
            Suzanna Campello lembra que em fases como a infância e adolescência é muito importante que os pais controlem o que os filhos estão lendo e como estão interpretando. “Algumas pessoas são muito influenciáveis. É preciso ter cuidado com obras incentivam a identificação com personagens ou conflitos psicológicos.”, explica a psicóloga. Contudo, a especialista frisa a importância do hábito literário: “Mesmo com esses problemas a prática ainda é maravilhosa, o leitor aprende muito e pode tirar lições para vida.” Suzanna ainda destaca que já indicou obras para auxiliar no tratamento de pacientes com transtornos ou depressão. 
Clube de Leitura do DF
            A ideia surgiu com o fim de um fã clube, em 2010. Diego Baptista, 22, criou o grupo em julho de 2011 para continuar a disseminar as práticas literárias originadas com a série Harry Potter. Hoje, o clube está nas redes sociais, tem site próprio e realiza dois encontros mensais, para debater os mais diversos livros. "Incentivo a leitura e me considero um privilegiado", relata. 
            Atualmente o grupo conta com mais de três mil membros no Facebook. No site, é possível ler resenhas de algumas obras, conferir notícias, comprar camisetas dos eventos e até mesmo trocar livros com outros participantes. Para se associar, basta fazer parte da comunidade ou comparecer em algum evento. Quinzenalmente acontecem os encontros práticos onde os integrantes vivenciam parte da história de uma obra, como a simulação dos Jogos Vorazes ou mesmo o jogo de Quadribol, esporte praticado pelos personagens da série Harry Potter. No início ou final de cada mês acontecem encontros presenciais, realizados no auditório da Livraria Cultura, do Casa Park.


Fonte da matéria: Minha matéria para o jornal Laboratório da Universidade Católica de Brasília, Artefato (4ª edição do 1º/2013)


Nenhum comentário:

Postar um comentário